Há tesouros que não podem ser avaliados pelos nossos olhos. E
apenas uma experiência consciente é capaz de nos fazer enxergar e valorizar.
Esse patrimônio é intransferível, é conquistado e fica marcado. O verdadeiro
sentimento quando vivido não tem como não marcar. Mas esses tesouros podem
enferrujar, deteriorar e perder sua função divina. Assim o amor pode adoecer e
tornar-se ódio. O que começa com um encantamento, pode terminar com violência
física, verbal ou silenciosa. Por que essa herança que recebemos do criador
pode sofrer essa terrível mudança? Talvez para que possamos exercer a
verdadeira caridade. Aquela que só pode ser exercida nas relações humanas,
porque são nelas que adoecemos, experimentamos carência, mágoa, etc.
Cultivar o amor, eis o grande segredo da evolução espiritual. Nenhum
relacionamento é imune. Conviver significa também machucar e ser machucado. E
apenas os íntimos podem nos ferir profundamente. Na escala evolutiva humana em
que nos encontramos é impossível não nos ferirmos. Não somos primitivos, mas também
não somos anjos. E somos como um rio que corre, tocar profundamente pode
alterar toda a superfície. E qual a saída? Desistir dos relacionamentos?
Podemos até estacionar, mas cedo ou tarde teremos que voltar a caminhar, e é
impossível ser alguém sem o outro. Basta observarmos nossa vida, dependemos dos
outros para nascer, crescer, e até para morrer. Uma lição grandiosa que mostra
que ninguém é autossuficiente. E sem as diferenças, como nos definir?
Identificamos as coisas quando interagimos. Ninguém evolui sem relação. E
exatamente por isso que existe o perdão. Não é um dogma religioso, o perdão
existe para mantermos a integridade psíquica. Todas as dificuldades da alma
estão relacionadas ao perdão, ou melhor, à falta dele.
Não devemos alimentar expectativas irreais nos relacionamentos. Onde há seres
imperfeitos há relacionamentos imperfeitos, não tem como ser diferente. Isso
não quer dizer que você deva se relacionar ou continuar se relacionando com
quem te faz mal para exercer o tempo todo o exercício do perdão. E nem tem
como, pois só conseguimos conviver intimamente com quem vibra na
mesma frequência que a nossa, em sintonia. A grande questão é não guardar
mágoas no coração, pois esse sentimento corrói apenas quem o guarda. Isso quer
dizer que o outro não vai morrer porque não o perdoamos, mas nós vamos, pois a
mágoa é um veneno que mata.
“O amor é uma aventura de alegria e de dor”. Seja qual for o tipo de amor, amar
dói, e ninguém nunca disse que não iria doer. Mas podemos sempre escolher se
essa dor nos fará sofrer ou crescer e fortalecer, para um dia nos
tornarmos imunes a ela e, finalmente, fazer prevalecer a alegria.
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