Sensibilidade


Sempre enxerguei na sensibilidade a faculdade de sentir compaixão, piedade, empatia, ternura... Sentimentos bons. E não a disposição para se ofender ou melindrar-se, para sentir extraordinariamente as injúrias, suscetibilidade.
Mas essa capacidade de reagir aos mínimos estímulos e influências físicas externas serve também para nos entristecer e não somente para nos alegrar. Talvez por isso seja tão difícil para algumas pessoas sensíveis conseguirem perdoar.
Quando somos muito sensíveis ficamos excessivamente propensos a todos os sentimentos. Um simples elogio pode nos dar desde energia para enfrentarmos um dia até motivação para vivermos. E uma simples acusação pode nos jogar num precipício onde preferimos nos enclausurar ao enfrentar os que nos “perseguem”.
Perseguição é um problema para os sensíveis. Tememos acusações, mesmo sabendo que muitas vezes servem para o nosso progresso moral. E as coisas que escutamos ou lemos, mesmo sem querer, nos atinge, pois captamos a energia de tudo. Somos como uma de esponja de vibrações. Sentimos a energia por trás das notas musicais, das palavras, dos gestos, do silêncio.
Consegui lidar melhor com essa característica e equilibrar o lado ruim de ser muito sensível apenas quando comecei a trabalhar voluntariamente, ajudando outras pessoas. Estudei e percebi que é impossível guardar mágoas e ajudar ao mesmo tempo. E quando resolvemos fazer o bem, não podemos olhar a quem. Devemos ser como uma luz que irradia para todos, sem distinção. Obviamente que é impossível não nos melindrarmos quando nos sentimos atingidos. A questão é: Por quanto tempo deixamos esse sentimento fazer morada em nós? Por um momento ou por uma vida? Assim como a criança, podemos nos magoar sim, é da nossa natureza, mas esse sentimento não deve durar mais que um breve momento, pois não há como alimentar o amor e o ódio ao mesmo tempo. Dois sentimentos opostos não ocupam o mesmo lugar no espaço, ou melhor, no coração. 
Outra característica importante dos sensíveis, e talvez a maior delas, é amar demais. E amor demais às vezes pode ser interpretado como amor de menos. Diante nossa capacidade de sentir muito, enxergamos além do que conseguem ver nossos olhos. O fato de nos importarmos, muitas vezes nos leva a dizer “não”, a apontar falhas e até a nos afastarmos quando sentimos que podemos prejudicar. Apenas quem realmente se importa tem a sensibilidade de cuidar através da imposição de limites. E só se importa quem muito ama. Mas para “enxergar” isso é preciso ter a sensibilidade para perceber que o amor se manifesta de várias formas, e que nem sempre está presente apenas no que nos agrada. 

Comentários