O fantasioso mundo das formas



A vida humana se manifesta no mundo em que conhecemos através das formas físicas, que comporta o ego, ou seja, a consciência, ou personalidade, de cada pessoa. Embora haja divergência entre algumas teorias (afinal, somos vários egos pensantes), a maior parte relaciona o ego à nossa visão de individualidade. Mas, se grandes mestres já disseram que “ele é uma ilusão” e que “devemos negar a nós mesmos”, dando a entender que o ego é irreal, então, devemos considerar que tudo o que vivemos é uma fantasia? 

Somos todos formados da mesma fonte de energia, matéria e harmonia que existe no universo, o que nos leva a refletir que não estamos nele e sim somos uma pequena parte dele. Somos todos UM com o universo e com a suprema inteligência que nos criou. Estamos todos conectados, interligados, porém por meios invisíveis às nossas percepções sensoriais físicas. Talvez por isso nos sentimos deslocados, separados uns dos outros e da imensa luz que somos. E essa sensação que para nós é a realidade, faz parte desse mundo dual em que vivemos, onde não podemos conhecer algo sem o seu oposto. Assim como não existiria luz se não houvesse a escuridão, som se não houvesse o silêncio, magia se não houvesse o desencanto... Também não existiria o real se não fosse a fantasia.

Nesse jogo das formas, ou melhor, nesse teatro onde criamos e representamos nossas histórias, vividas pelos personagens que estamos, é onde nos tornamos, pouco a pouco, conscientes de quem realmente somos. E por estarmos todos separados nesse grandioso palco da vida, buscamos constantemente fora o que já possuímos dentro.  Paz, felicidade, amor, e tudo o que é necessário para o preenchimento dos nossos “vazios”. Mas o que devemos buscar fora é apenas o meio de despertá-los dentro de nós, através dos relacionamentos. Dependemos dos outros para despertar o que já possuímos, pois se somos parte de um mesmo TODO, o eu individual e coletivo também são apenas UM, e quanto mais nos relacionamos, admiramos e amamos outras “formas”, mais nos descobrimos e expressamos o melhor de nós. 

Alguns acreditam que é preciso apenas que ocorra a morte do corpo físico para sairmos dessa ilusão de individualidade e separatividade imposta pelo ego. Acredito que é preciso que ocorra algo muito além disso. A morte do ego talvez não esteja relacionada à morte do corpo físico, embora esta possa trazer um grande despertar da consciência desse Eu maior. A morte do ego deve estar relacionada a uma evolução da consciência. Portanto não basta apenas o falecimento do corpo físico, visto que, sendo a alma imortal, essa é apenas uma passagem da vida física para a espiritual. Para acabar com a ilusão do ego é preciso “morrer” em vida, independente da forma que apresente. Grandes mestres nos mostraram que isso é possível. “É morrendo (para nossa consciência individual e para a vida material), que se vive para a vida eterna.” 

Assim, nascemos para uma vida que não se prende às formas, mas que carrega as memórias de tudo o que vivemos, a harmonia, a sabedoria, a paz e o êxtase de quem realmente somos quando não estamos separados. Talvez seja aquela sensação que conseguimos sentir por pequenos momentos através da meditação profunda ou da vivência do amor puro. Mas, enquanto não alcançamos esse estágio evolutivo permanente, vamos brincar, criar e nos permitir viver intensamente com alegria, leveza, respeito e a gentileza dos sábios, nesse fantasioso mundo das formas que, por ora, sendo tudo o que temos e conhecemos de verdade, é a nossa realidade.





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